Navegámos. Seria um crime se não o fizessemos com as condições de sol que o final de Abril nos brindou. Senti-me um caçador de trofeus, mais um passo, mais uma descarga de boas sensações e mais uma fotografia para a porterioridade. Fizemos jus às comemorações do dia em que a Liberdade foi conquistada pelos nossos pais. Fomos gastá-la e partilha-la com o elemento que a personifica: a água.
Quem faz a estrada nacional de Ribeira de Pena para Vila Pouca de Aguiar, e sobe lentamente para o planalto do Alvão, acompanha um percurso sublime de águas bravas. Há muito que a água, o granito e os rápidos de cortar a respiração me atraiam para aquele vale, que era o único percurso que o Louredo ainda tinha escondido. Cai 200 metros em 3 Km, e, com uma navegação consistente de classe V, poderá, conforme a coragem e o feeling, ser remado sem portagens. Como se não bastasse, depois desta chatisse e deste tédio de rio, os lavagantes de água doce ainda foram dar cabo dos xispes em mais do mesmo, as garganta central do Louredo, mais abaixo no vale.
À medida que avanço por gargantas inóspitas, por esses declives, por essas linhas talhadas pelo tempo nos montes do Portugal profundo, dou comigo a pensar:
As provas disso vêm por aqui abaixo. As minhas desculpas por não ter confraternizado no Sabor ou no Nabão com os demais canoistas portugueses, e desculpem ainda por não ter convidado Portugal inteiro para remar connosco, o dia e o rio mereciam-no.
No Genesis, a palavra "contra-corrente" é uma palavra muito pequena. A navegação apesar de não ser muito hard-core é sempre continua, exigindo muita manobra e rapidez de reacção. As fotos acima demonstram um pouco o estilo de rio, com um desnível continuado e ininterrupto.
Nas alfaces estou eu e o Nunes. O outro canoista é o Nelinho Fininho, Tamecano, companheiro assíduo de copos e esporádico de águas bravas.
Por vezes o rio enfurece-se mais um pouco e origina um sem número de passos mais verticais. Tobogans e pequenos saltos sempre com um "quê" nas recepções. Para mim, e enviando desde já uma abraço cordial aos meus amigos do Paiva, o Rio Louredo, é o melhor rio do país.
Aproveito esta oportunidade para lembrar que no novo Plano Nacional de Barragens, está prevista uma albufeira em Gouvães da Serra, precisamente no início deste percurso.
Não sou contra as paredes de cimento, que dão cabo dos eco-sistemas, paisagem e natureza virgem, mas que as nossas dependências de energia a elas obrigam. Mas no que toca ao Louredo, remarei contra a barragen, em direcção à foz.
O sol não deu tréguas. Apesar do ácido láctico, ainda houve uma réstia de força. Mandamo-nos vale abaixo para medir forças com a garganta central mais uma vez.
É ou não é um maravilha da natureza ?? Só quem o conhece é que sabe o que vai custar perde-lo.