No passado fim de semana convidaram-me para palestrar sobre a canoagem e a minha relação pessoal com os rios num evento cultural em Mondim de Basto. Partilho convosco as minhas palavras. Por um Tãmega livre.
Rio
Eu sou um Rio
Sou uma catedral da água
Água
Sou uma igreja da gravidade
Fim das particulas
Gotas e areias
Rio
Eu sou uma viagem
Uma viagem onde haja um rio
Em lugar nenhum e em toda a parte
Sou um conhecer-te
Sou mil conversas com quem tamém és tu
Cá, ali, atrás daquele monte, naquela cordilheira
No Chile, na Suiça ou aqui mesmo Cabril
Rio
Sou um viver a cultura que encerras
As mil pessoas
Irmãs e desconhecidas que vivem e são como eu e como tu …. São um rio .
Sou uma comida de mil sabores
Sou uma festa
Sou uma noite a ouvir-te … incessantemente !
Rio
Eu sou um rio
Sou uma canoa
E sou levado na corrente, permanente, permanente
Sou hoje um regato, amanha um ribeiro, e depois um rio …
Sou um ser vivo
Um ser com personalidade própria
Independente na minha essência
Rio
Amigo e inimigo
Coverso contigo
Jogo contigo
Luto contigo
Muitas vezes em guerra contigo
Hematomas, arranhões, cieiro e Herpes e deslocações
Sempre vencido, sempre vencido
Rio
Eu sou um rio
Sou as primeiras chuvas de Outuno
Frias
Que me poêm as águas turvas
Sou os arcos alagados de uma ponte
Sou um céu carregado de negro
Sou um medo, uma angústia, um desconforto
Rio
Ontem também fui um rio
Fui as últimas águas da Primavera
Que me rebentam as nascentes
Que escorregam nas pedras limpas e quentes
E me poêm de cores brancas
No Maio
Sou a dança dos rápidos
Sou o verde dos salgueiros
Sou amarelo das Urzes
Rio
Eu sou as tuas rochas
Que te prendem e encalham
Sou os granitos do Rio Beça
Duros, lisos e lavados
Imensos
Sou mil piocas
Sou mil cascatas
Sou os Xistos do Rio Olo
Mais moles
E sou as tuas escadarias de àguas infinitas
Rio
Sou um rio desconhecido
Onde todos me vêm das margens
E onde poucos me percorrem as artérias
Sou o carro em contra-mão
Erratico e sistemático
Nas pontes
A cada instante
A olhar-te
Sempre, sempre, sempre ...
Rio
Sou as lágrimas das fugas e das perdas
Dos amores e ódios
Sou uma escola
Sou uma casa
Mil e um açudes
Sou o rio Tâmega, o Cabril, o Olo, o Louredo
Sou o Cabrão, Ribeira de Cavez de Fermil e Moimenta
Sou o Beça, sou Poio
Rio
Sou um Silêncio
Um silêncio na imensidão do teu ruido
Sou uma nota musical, uma pauta
Sou uma dança nas tuas àguas
Sou uma música
Rio
Eu sou um rio
sexta-feira, maio 15, 2009
Sou um Rio
quinta-feira, maio 14, 2009
Um Circuito de Imagens
E assim terminou. Foi uma espécie de licença sabática pedida ao Rabiço jornalista. Fevereiro, frenesim. Foi o mês mais caudaloso da época das chuvas 2009/2010, e como tal foi uma espécie de continuação do Janeiro, como se tivesse trazido o Chile pelas montanhas do Marão "adentro". Uma continuação da catarze permanente da Viagem. Março e Abril andei a "cirandar" pelos encontros de águas bravas e slalom. E depois meteu-se a escola de canoagem, uma espécie de anti-solidão pseudo-altruista. Para quem se tenha habituado a seguir frases e viagens neste espaço, desculpem o interregno.
O Circuito Nacional de Kayak Extremo - Portugal White Water 2009 foi um sucesso. Três provas, três rios, três comidas, três festas, três Viagens. Como sempre o que ficam são as interminaveis imagens. Alarguem as vistas e vejam o que fizeram um grupo de 50 amigos (numero de atletas que participaram em pelo menos 1 prova) nos três respectivos encontros, St. Rita Extreme - Fafe, Tamecanos 2009 - Mondim de Basto, Paiva Fest - Arouca. Marta Noval, classificou 3º (deixou mais de 40 canoistas para traz), Paulo Pires ficou e 2º (experiência, remada consistente, e muita boa vida) e eu com a ajuda o Karnali L, provei que o mais importante é ser regular. Venci.
Antes da segunda ponte, Fafe. A final a três deu raia logo no início. Embrulhei-me com o Rafael Pinto (Tamecano) e o Rui Moreira entrou na parte mais agressiva do açude e "ficou a peliçar" uns segundos preciosos o que me permitiu uns metros de avanço. Eu o Rui e o Rafael na cola.
O Sr. Pereira e o Sr. Castro posam para a fotografia com as suas principais fãs. Da Dona Leontina, da esquerda, diz-se que cantou no Ajuntamento Folclorico de St. Ovídeo, ganhando inclusivé varias prémios de melhor solista nos festivais de ranchos. Diz o Sr. Pereira entendido na arte de articular sons e manufactura de músicas, que já não há vozes como aquelas no país, e quase convencia Dona Leontina a dar uma ajudinha aos "berradores" oficiais dos No Name Boys. Diz que aquilo lá para baixo anda um pouco murcho.
Chamemos a este grupo o grupo da frente. A Martinha aparece desfocada na luta pelo terceiro lugar. No encalço Ricardo Invernadas, e Pires do Blocos. Apesar das caras estarem tapadas com pagaias, a imagem está muito dinãmica. Grande trabalho do fotografo Paulo Mota.
O passo é o mesmo. Chama-se "Caxão", mas a malta de além Mondego sempre lhe chamou "Tramolhão". É um desnivel de 4 metros que resulta de um estrangulamento natural, no final da garganta que separa os concelhos de Mondim de Basto e Celorico, antes de chegar à praia do Vau. Depois do "Caxão" eram apenas mais 300 metros até ao final, os atletas já tinham percorrido 3 km de águas bravas e mansas.
Chamemos a este grupo um grupo do meio. Liderado pelo Henrique, e seguindo linhas aparentemente divergentes e de resultados nada positivos Chapi (18eCia) e Jarbas Lavagante Paulo Maia (Tamecano e uma espécie de Triângulo das Bermudas das pagaias), com o Vidabela na espectativa. Mais uma foto dinamica. Ver abaixo o resultado da brincadeira.
Esta imagem causa-me "espécie". Já tinha ouvido histórias de pessoal que descalçava o kayak de quando em onde antes dos rápidos. Pela primeira vez assisti. Antes do "Cachão" Joaquim Felix Mantilha viu-se livre desses dois objestos inuteis, Kayak e Pagaia, e nadou, agrafando-se na margem. Mítico.
Tony Words de cognome "O Pró", mostra o seu estilo agressivo. Pagaiada bem vertical, corpo ligeiramente inclinado para a frente. Prego a fundo até á primeira vitória numa prova no Rio Paiva.
Os "velhinhos" Calado/Benjamim talharam a sua linha de forma perfeita, nas Marmitas. Foram uma espécie de Safety Car da prova.
Arrastei comigo destes dias um sentimento de privilégio. Sou cada vez mais um contemplador. Esta água presa pela gravidade ao fundo de um vale dá uma luta e um gozo indescritiveis. Obrigado pela partilha. Vivam o Rio.