terça-feira, janeiro 27, 2009

Dia 19,20,21 - " Destino - Terras de Magalhães"

O transito na América do Sul pode demorar dias, e o conceito que temos de "horas" para chegar de um local a outro dentro de um país transforma-se em dias em paises como o Chile, a Argentina ou o Brasil. A minha viagem seguia o caminho inverso ao que me trouxera aquele local, Futaleufu. Planeava estar em Puerto Montt o mais rápido possivel. Aí iria voar rumo a Punta Arenas, a cidade mais austral do Chile.

Foram três dias cheios de histórias. Na primeira noite, pernoitei em El Bolson, uma vila Argentina, colada aos Andes, fundada por jovens "hyppies" no final da década de 60. O lugar apesar de muito turistico ainda mantinha um pouco do espírito dos fundadores, e muitos entusiatas de todo o muito escolhiam este lugar para viver. Ao final do dia rufavam "jambés", teatros de rua e eu empanturrava-me gelados artesanais e recordações.
Camping na companhia de jovens argentinos nas chamadas "férias grandes" que não me deixaram pregar olho, John Lennon até a exaustão das vozes e até terminar a cerveja preta "... All we are saying, is give peace a chance ..." !!!!

Avanço já para a noite seguinte já que o dia foi passado práticamente dentro de um autocarro, em viagem. Não é que os autocarros, particularmente na Patagónia Argentina, não tenham alguma história, têm sim senhor. Autocarros cama, semi-cama, com ar condicionado que funciona, com serviço de refeições, etc ... de meter inveja a qualquer europeu com tiques de pseudo-ocidental-desenvolvido. Não era apenas aquele, era regra geral. Tudo bem que as viagens inter-cidades duravam 12, 24 horas, 2 ou 3 dias, mas já fui algumas vezes daqui para Geneve, em verdadeiras carcaças.
Noite no aeroporto de Puerto Montt junto com trolhas, foi o que se pode arranjr para quem chega quase de madrugada.

No dia seguinte aterrei em Punta Arenas e senti o verão puro e duro do sul, a 1500 km da Antártica, vento, muito vento e frio. "Vagabundei" pela cidade, procurei as raizes portuguesas. Muito tinha lido sobre aquelas paragens. Fernão de Magalhães quando passou o estreito (primordios do século XVI), uma espécie de atalho pelo sub-continente sul-americano, entre o Oceano Atlantico e Pacífico, elegeu a baia de S. Julian, como primeira colónia europeia em terras da Patagónia. Punta Arenas, devido à sua costa arenosa, boa para a carga de navios, transformou-se na cidade mais importante do sul em final do século XVII. Esta é a última fronteira para a Antártica, e apenas daqui saem voos comerciais para a remota região, para além disso a cidade tem o controlo do estreito, por onde passam todos os cargeiros que não "cabem no Panamá". A cidade prospera. E tem Magalhães ...

Renegado pela coroa portuguesa, oferece-se à coroa espanhola. Objectivo: descobrir uma passagem a sul do Brasil, para o mar desconhecido, na altura o Oceano Pacifico. Naqueles anos, o ouro eram as especiarias. Como a rota convencional, pela costa de Africa, e India era controlada por portugueses, e estava do lado português do Tratado de Tordesilhas, a corte espanhola apoiou esta epopeia de Magalhães para saber se haveria um acaminho alternativo para as Molucas e saber ainda se as Molucas se encontravam do lado português ou espanhol do anti-merideano divisorio. Como tal todas estas terras assim como todo o Oceano Pacífico, eram lugares novos e desconhecidos para os primeiros ocidentais que por cá passaram.

Talvez o Chile respeite mais o feito e a pessoa de Magalhães do que nós os portugueses. A toda esta terra se chama Terras de Magalhães. Magalhães, Magalhães, Magalhães ... os feitos são enormes, talvez para um outro blog, ou uma outra viagem.

Em Punta Arenas senti-me em casa.


Puelo Lago

Em transito pela Patagónia. Final de tarde no Lago Puelo.

Punta Arenas
A bem desenvolvida cidade de Punta Arenas, nas margens do Estreito de Magalhães

Magalhães 2
Praça de Armas em Punta Arenas. Em 1930 um artista chileno, prestou a homenagem ao navegador português Fernão de Magalhães, esculpindo a sua figura em bronze. Circunnavegou pela primeira vez o globo. A minha homenagem à tenacidade daquele portugês foi admirar este feito, e por momentos tive inveja de não participar naquela epopeia.

1 comentário:

vacamalhada disse...

Tinhas dúvidas de que os Magalhães são um espectáculo?? ;)