Escrevo no meio do Atlântico. Nem sempre foi fácil durante a flutuação encontrar o tempo certo e a onda apropriada para fundir a minha linguagem com a paisagem. Apesar de tudo, tão pouco é mais fácil na viagem de regresso à Europa encarnar o espirito diário vivido entre aquelas duas paredes. Mando duas garrafinhas de "Vinhas del Duero" goela abaixo, fecho os olhos o busco o tele-transporte. Na manha daquele segundo dia descida, acordamos entalados. Tinhamos escolhido um camping pequeno emparedado. Mal era manhã e experimentava a luz a reflectir nas primeiras camadas do planalto, ainda surpreso, o sol adquiria ali uma alma própria distinta daquela que conhecia, as camadas laranjas e amareladas incentivavam-no a ser ainda mais sol, perdia-se e encontravasse nos múltiplos reflexos que o encaminhavam até nós ... (ainda hoje procuro descrever esse sentimento mas em vão) Naquele dia houve um sentimento de estarmos no nosso habitat. Os chamados "Roaring Twenties" ofereciam ums serie de rápidos nem muito fáceis nem muito dificeis, quanto bastasse para dar conforto à equipa. Coreografamos, ora uns ora outros à frente, com sorrisos de espanto, enebriados com o efeito surpresa de cada curva. Os rafts vinham sempre ao sabor da corrente (6 a 7 km/hora), de nada adiantava carregar nos remos. Cada raft pesava 600 kg. Com o condutor ao centro, sentava-se em cima de um "frigo" uma espécie de arca frigorifica, obviamente sem ligação de electricidade, meia de gelo, para aguentar os 14 dias. As arcas transportavam verdes, lácteos, congelados de carne, etc. À frente e a traz do "rower" uma caixa metálica, com cargas diversas, transportavam mesas e material de cozinha, gaz propano, cerveja, muita cerveja, enlatados. Havia um barco com caixas matálicas, para dejectos humanos. Lado direito e esquerdo da parte central dos barcos, caixas estanques, transportavam pão, cereais, snacks, doces. Havia depois utilitários, papel higiénico, pequenos sacos estanques, para o que fosse preciso, etc e tal. Cada um tinha direito a uma pequena caixa estanque para transportar pertences e comidas de rápido acesso. Havia um kit de reparação de barcos, uma caixa com condimentos de cozinha, 4 estojos de primeiros socorros, e uma placa metálica para fazer fogueira sem deixar rasto. Os barcos transportavam ainda todo o nosso material seco, tendas, cadeiras de campismo, material electrónico, etc e tal. Ao terceiro dia a máquina de distribuição de tarefas ainda rangia e procurava ser oleada. Havia 3 equipas de cozinha de 4 elementos cada, cozinham e lavavam à vez, havia uma equipa de 2 elementos para a secção da água, desinfectavam água, preparavam água para a cozinha, depois havia a equipa da "toillet", também uma dupla, montavam e desmontavam a casa de banho de campanha. Na chegada às praias todos ajudavam a descarregar o material e de manha na saida ao carregar igual ritual. Estipulamos remar 30 km diários (20 milhas), 5 horas na água, com uma pequena interrupção para um almoço volante. Se desse tempo durante essa paragem caminhavamos em perpendicular, na descoberta de "side canyons". É claro que nem tudo correu dentro do planeado, esta era uma viagem nova para todos, adapações, cedências e aldrabices teriam que ser feitas …
Ao som de Bjork and Massive Attack - New World
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